30 de dez. de 2009

Escrito num pedaço de papel colorido... 2/3

Escrito em um pedaço de papel colorido, com letras garrafais e todo enfeitado, colado com a incrível fita dupla face num arranjo meio que permanente, longe da insignificância dos papeizinhos amarelos que logo perdiam a cola, acima das listas de pretensões, o objetivo maior “Ser Feliz!”.
Esse não era bem um lembrete, não era preciso. Tornara-se, na verdade, parte da decoração do quarto, tão bem desenhado fora. Inclusive, parte da mudança da decoração do quarto que pretendia fazer, o começo dela.
Pensando bem, estava muito diferente do começo do ano, o cômodo. Sua organização e as lembranças que ele trazia. A disposição dos móveis e o conforto que sentia ao entrar.
Estava muito diferente do começo do ano, sua vida. Não conquistou necessariamente os itens estimados, pelo contrário, realizou algumas das coisas que deixara fora da lista propositalmente, justamente porque não as almejava. O que não a impediu de alcançar. O que a assustou e surpreendeu, mas foi uma fantástica e maravilhosa falha nos planos.
Estava muito diferente do começo do ano, seu coração.
Estava muito diferente do começo do ano, sua fé.
E a vida ao fim do ano lhe parecia mais mágica, o mundo parecia maior, cheio de novas possibilidades, novos lugares, e ao mesmo tempo tão apertadinho, ao ponto de não caber mais ninguém além d’ele com sua fé e ela com seu coração, e esse mundinho era grande o suficiente pra que nenhum dos dois precisasse se apertar para que coubesse o outro, ainda assim, eles preferiam dormir espremidos num abraço.
E colocou um adorno a mais ao objetivo constante, que mais se enfeitava à medida que se cumpria. E, no fim das contas, interferiu para que os quilos conquistados a contra gosto nem importassem tanto.

A lista de objetivos de ano novo jazia... 1/3

A lista de objetivos e resoluções de ano novo jazia no post it colado na parede defronte à escrivaninha. Já se fixava com auxilio de um pedaço de durex, pois o adesivo dos lembretes já havia cedido há alguns meses. Continuava ali na esperança vã de que fosse lembrado em algum outro momento ao longo do ano.
Daqueles objetivos separados em duas categorias nomeados por ícones desenhados, indicando, basicamente, objetivos da alma e do corpo, até agora, nenhum realizado. Pensando bem, nem inédita a lista era, só mudavam as construções das frases, de ‘emagrecer 5 quilos’ para o começo do ultimo ano, para ‘emagrecer os 5 quilos que ganhei esse ano’ no final dele, no saldo, 10 quilos que lhe pesavam mais a consciência que a própria balança da farmácia na esquina, da qual já até cortava caminho. Ao lado das pequenas listas cheias de mudanças utópicas houve, por um tempo, um programa de dieta e exercícios, que foi retirado para dar lugar a algum aviso de compromisso da faculdade, ou de um filme na televisão que não queria perder, nem lembrava mais.
A relação dos hobbies era mais deprimente, tantas coisas que davam prazer em serem feitas, tão animadoras, mas que eram deixadas de lado em troca de horas dormindo no sofá da sala, ‘dormir menos e melhor’ outro item deixado de lado. Ela era estranha mesmo, enquanto a maioria dos universitários com a quantidade de coisas que ela tem pra fazer se priva de sono e sonhos, ela dorme bastante, até demais, e tem pesadelos. O que lhe custou mais um ano longe do objetivo sonhado ao entrar na faculdade, a formatura.Queria tocar violão, queria decorar seu quarto, montar álbuns de fotos fora do computador, reformar seu guarda roupas com o que ela já tinha, levar a diante o antigo projeto secreto. Queria.
Quis tanto.