26 de jan. de 2010

O velho do ponto de ônibus 3/3

FIM*

É. Não tem final. Segui o conselho do Ulisses, o fim do texto fica em aberto. É o único jeito de não estragá-lo e manter o pouco de dignidade poética que este blog tem.

Mas, se quiser ler o final que eu preparei... Estou avisando, nem pesadelos você terá



Sinceramente, não foi com grande surpresa que ele constatou, no dia seguinte, vendo as notícias regionais pela internet, que o dono das antigas empresas de café da cidade morrera atropelado por um ônibus ao tentar sair sozinho do asilo para visitar seus filhos. A foto do velho estampando o canto reservado ao obituário. Mas foi com um frio na espinha que ele encaminhou a notícia a ela via e-mail.

24 de jan. de 2010

A mulher da estrada 2/3

Eles se entreolharam apreensivos, usando uma linguagem subverbal e ocular para que o velho não entendesse o que tentavam dizer apenas um para o outro, apesar de tal esforço não se aparentar necessário, pois o sujeito parecia não escutar suas palavras.
Decidiram em 10 segundos, 5 piscadelas, 3 contrações pupilares e 14 movimentos de respiração, tão rápidos estavam seus pulmões, buscando arejar o cérebro e também por um pouco de medo, que iriam ajudar aquele velho perdido.
Saíram dali ser dizer nada, foram até a casa dele, deixaram as malas na porta do quarto e voltaram ao encontro do velho, agora com o carro que ficara na garagem enquanto viajavam. Prontamente, sem ser necessário insistir contra a relutância que eles imaginaram que encontrariam, o velho entrou no veículo, e continuou mudo.
-Pra onde o senhor quer ir?
-Pro cemitério.
-Mora lá perto?
-Sim.
Seguiram pela cidade sem nenhum barulho além do rosnado reclamão do carro, como num protesto por ser levado para as ruas vazias àquela hora da noite. Apenas a comunicação muda entre os dois ocupantes dos bancos da frente.
Até que se aproximaram do destino
-De que lado do cemitério o senhor quer ficar?
-Tanto faz.
Queriam deixar o velhinho o mais perto possível de casa, sem que ele acabasse por se perder ou tivesse que atravessar toda a enorme quadra do cemitério, mas ele não colaborava. Iriam, então, deixá-lo no lado pelo qual alcançariam o muro do cemitério, dar meia volta e ir pra casa. Aquelas redondezas não era um bom lugar para ficar zanzando tão tarde, menos ainda com um carro tão ruidoso, que chamaria a atenção de possíveis sujeitos escondidos no cemitério esperando por uma oportunidade de assalto para comprar mais 'pedra', como eles sabiam que acontecia por ali.
-Mora com sua família? - perguntou a garota, tentando de alguma maneira fazer com que o homem chegasse seguro em casa.
-Não. Os ingratos dos meus filhos me enterraram num asilo. Moro sozinho agora. - Disse tudo numa disparada, uma enxurrada de palavras, e mais do que já havia dito até agora, com mais informações.
Não havia ninguém se quer para sentir sua ausência em casa e estivesse procurando pelo velho, que apesar da hora, ainda não chegara.
Assim fizeram, deixaram o incomum desconhecido pra trás e seguiram pra casa, dormir depois de uma longa viagem, que já nem parecia ter acontecido naquele mesmo dia. Mas não sem antes ouvir do velho quando já arrancavam ruidosamente com o automóvel
"Obrigado"
E uma expressão tranqüila e aliviada. Destoando de sua completa falta de reação desde que o encontraram ao acaso. Salvo quando mostrou uma ponta de chateação, reprimida numa frase apressada dizendo que morava só.

22 de jan. de 2010

A loira do banheiro 1/3

Era noite de domingo, na verdade, já eram os primeiros minutos da segunda-feira, quando eles chegaram de volta à cidade depois do fim de semana na casa dos pais dela. Passaram no apartamento dela deixar suas malas e trocá-las por apenas uma bolsa com roupas pra passar uma noite fora, e seguiram de ônibus pra casa dele.
Soprava uma brisa gélida devido à garoa fina que caia, destoando das tipicamente quentes e abafadas noites de verão, apesar disso, ela saiu de casa usando um vestido leve, e por distração e um pouco de pressa, esqueceram o guarda-chuva sem tempo para subir de volta ao apartamento pega-lo. A chuva esfriava, mas não molhava, e no caminho até o ponto de ônibus apenas umideceram os cabelos e salpicaram a pele de gotinhas, que foram secas com as mãos um do outro.
Subiram na última linha, do último horário, dos ônibus daquela noite, e seguiram todo o caminho sozinhos, na companhia um do outro, do motorista e do cobrador da condução.
Quando desembarcaram, já em outro canto da cidade, viram sentado no banco da parada um velhinho, em trajes sociais como se fosse a uma quermesse de domingo, vestindo colete, paletó e chapéu.
O velho parecia uma alma perdida, parecia que havia perdido a alma, não apresentava reações, nem expressões, parecia alheio ao banco no qual estava sentado, alheio à hora que já marcava o relógio, que a julgar pelas suas vestes, ele carregaria no bolso, pendurado por um lindo cordão de prata.
Aproximaram-se, o homem continuava inerte. Quando já estavam bem perto e apreensivos de curiosidade e receio daquele sujeito estranho, ele reagiu, e num movimento repentino tocou o braço da garota
-moça, quando passa o próximo ônibus?
Ela olhou apreensiva para o companheiro, que respondeu
-só de manhã, acabou de passar o ônibus do último horário.
O velho desta vez segurou a mão dela
-moça, quando passa o próximo ônibus?
Ela sentiu-se incomodada e assustada, não gostava que estranhos a tocassem, e o comportamento bizarro desse estranho não melhorava a sensação.
-acabou de passar o último. Outro só de manhã.
-Pra onde o senhor vai?- perguntou o rapaz.
O intrigante desconhecido olhou pra ele, virou-se com calma soltando a mão da menina, e com ar de quem acabava de notar a presença da outra figura o fitou por breves segundos.
-Quero ir pra embora.
-Onde fica sua casa?
Silêncio seprucal. O velho abstraiu a pergunta e refletiu alto
-Precisava de um ônibus que me levasse embora.

17 de jan. de 2010

dias de chuva, dias de sol

Preciso escrever, mas esqueci o caderno verde em casa.
Como eu venho esquecendo tudo, a fonte do laptop, o celular, o guarda-chuva, esqueci o leque pra não passar calor naquelas salas de espera apertadas. Saí pagar a prestação da loja de calçados e esqueci o boleto em casa, não teve jeito, tive que voltar, e tornar a ir, tomando chuva na cabeça. Esqueci as fotos que devia ter trazido pra pregar nessa parede, esqueci o livro que tenho q ler antes que as aulas recomecem.
Esqueço os óculos para dirigir, até do capacete já esqueci. Mas não tiro as malditas lentes da cara quando entro no banho ou na hora dormir, e acordo com a textura da armação marcada nos lados do rosto.
Queria entender, mas esqueci o equilibrio na mochila dele.
E essas letras que insistem em trocar de lugar e se confundirem. O que há com minhas mãos ou quem sabe com a minha mente, que não me deixam perceber que estou escrevendo as palavras todas erradas nesse droga de computador.
Esses sonhos cotidianos que insistem em me tirar o sono, em me lembrar que a conta de telefone ainda não foi paga, ou o medo de que certas coisas aconteçam.
A vontade de mudar o jeito acomodado de fazer as coisas, e a acomodação que deixa isso tão dificil.
E esse jeito de não conseguir evitar tanta distração, de por vezes achar melhor não se preocupar tanto com tudo, mas o tempo todo ter tudo pendente porque não me preocupei quando deveria.
Odeio epifanias. Odeio ver que eu não sei viver assim, tão por conta própria, que quando eu mais pensava ter autonomia da minha própria vida, era quando eu mais me perdia. Nos outros e em mim mesma. E me escondia de mim, em mim.
Odeio as fotos de novembro passado e tudo que elas me lembram. Por que elas não me lembram novembro passado, me lembram hoje, ontem, semana passada, e todos os dias dormindo no sofá da sala.
São tantas coisas pra organizar. São tantas coisas que não precisam ser organizadas, basta serem feitas, mas bagunçam tanto minha cabeça que depois delas tudo tem de se arrumar novamente.
Odeio ter tantas coisas pendetes.
Vou fazer como a Carol, vou correr, nisso já resolvo dois problemas. Fugir de mim por um tempo, e as fotos de novembro passado.

4 de jan. de 2010

No começo do ano que já dava seu adeus final... 3/3

No começo do ano que agora já dava seu adeus final, pretendia não mudar o que dera certo no ano anterior, e aprimorar o restante.
Analisando bem, fez exatamente o contrário.
Ao que julgava bem sucedido, acomodou-se e esvaiu. O que imaginava desnecessário surgiu de repente e mostrou-se indispensável. E o impensável brotou de suas escolhas mal feitas.
Nem todas as mudanças foram boas, nem todas más. Nem todas as edificações foram planejadas, nem todas as pretendidas se realizaram.
Mas olhou para trás e viu que mudou enfim.
E continuava a fazer o que o papel pedia, talvez até mandasse, Feliz. E isso é o que importa.
Não faria lista de pretensões de ano novo, o ‘ano novo’ acaba com a velocidade da luz dos fogos artifício do primeiro dia do ano.
Para o próximo ano, Ser Feliz! Todos os 365 dias do ano, mesmo que para contribuir com isso tenha que realizar alguns dos antigos itens das antigas listinhas.

Um ano de pseudo atividade e devaneios esporádicos neste endereço
Obrigado a todos e qualquer um que passou por aqui.
E aos que fizeram parte de 2009, que deram rumo a ele e estão intrísecos no texto, agradeço pessoalmente.
Nos vemos este ano.

Um beijo pra minha mãe, pro meu namorado, e especialmente pra xuxa e pra xaxa

Perfil 'Quem sou eu" escrito para este texto.