Era noite de domingo, na verdade, já eram os primeiros minutos da segunda-feira, quando eles chegaram de volta à cidade depois do fim de semana na casa dos pais dela. Passaram no apartamento dela deixar suas malas e trocá-las por apenas uma bolsa com roupas pra passar uma noite fora, e seguiram de ônibus pra casa dele.
Soprava uma brisa gélida devido à garoa fina que caia, destoando das tipicamente quentes e abafadas noites de verão, apesar disso, ela saiu de casa usando um vestido leve, e por distração e um pouco de pressa, esqueceram o guarda-chuva sem tempo para subir de volta ao apartamento pega-lo. A chuva esfriava, mas não molhava, e no caminho até o ponto de ônibus apenas umideceram os cabelos e salpicaram a pele de gotinhas, que foram secas com as mãos um do outro.
Subiram na última linha, do último horário, dos ônibus daquela noite, e seguiram todo o caminho sozinhos, na companhia um do outro, do motorista e do cobrador da condução.
Quando desembarcaram, já em outro canto da cidade, viram sentado no banco da parada um velhinho, em trajes sociais como se fosse a uma quermesse de domingo, vestindo colete, paletó e chapéu.
O velho parecia uma alma perdida, parecia que havia perdido a alma, não apresentava reações, nem expressões, parecia alheio ao banco no qual estava sentado, alheio à hora que já marcava o relógio, que a julgar pelas suas vestes, ele carregaria no bolso, pendurado por um lindo cordão de prata.
Aproximaram-se, o homem continuava inerte. Quando já estavam bem perto e apreensivos de curiosidade e receio daquele sujeito estranho, ele reagiu, e num movimento repentino tocou o braço da garota
-moça, quando passa o próximo ônibus?
Ela olhou apreensiva para o companheiro, que respondeu
-só de manhã, acabou de passar o ônibus do último horário.
O velho desta vez segurou a mão dela
-moça, quando passa o próximo ônibus?
Ela sentiu-se incomodada e assustada, não gostava que estranhos a tocassem, e o comportamento bizarro desse estranho não melhorava a sensação.
-acabou de passar o último. Outro só de manhã.
-Pra onde o senhor vai?- perguntou o rapaz.
O intrigante desconhecido olhou pra ele, virou-se com calma soltando a mão da menina, e com ar de quem acabava de notar a presença da outra figura o fitou por breves segundos.
-Quero ir pra embora.
-Onde fica sua casa?
Silêncio seprucal. O velho abstraiu a pergunta e refletiu alto
-Precisava de um ônibus que me levasse embora.