Era uma madrugada fria. Gelada. Mas da madrugada o que eu me lembro não é do frio, só de não querer sair do carro, de não querer chegar nunca, de que nem fosse preciso ir.
Amanheceu e continuava gelado, foi um desses dias que as extremidades endurecem e chegam a doer, mas doia mais por dentro, e minha vontade era sentar do lado de fora da casa, abraçar os joelhos, e congelar. Quando se tornava quase insuportável ficar dentro da casa, o clima atordoando a mente, mas nem por isso aquecendo o coração, não me deixavam sair pra respirar um ar um pouco mais leve, ainda que glacial, podia acabar ficando doente. Quem se importava?
O sol ia ficando mais forte com o desenrolar do dia e sentar sob seu calor derretia um pouco dos nervos que já enrijeciam. Mas não resolvia. Eu também queria ficar lá dentro, e passei o dia andando de um lado para o outro, como antes corria pela casa derrubando coisas.
Eu sempre achei que quando fosse chegando a hora, bateria o desespero, ficaria catatônica ou choraria alucinadamente. Foi um pouco aliador. Ficariamos só nós, poderia dormir, ainda que não tivesse sono, até porque esperar não resolveria nada. As coisas já estavam difíceis.
As vezes melhora, as vezes eu não quero que melhore, pra pelo menos manter clara e recente as últimas lembranças antes daquela madrugada fria. As vezes piora, quando não parece justo dizer isso pra quem sente o mesmo. E não é. Ou quando aparecem coisas do passado que eu nunca precisava saber. De um passado que vai ficando cada vez mais remoto, cada vez mais importante. Eu queria esquecer pelo menos esse dia, o frio, o desnorteamento, mas nem são essas as memórias mais doidas. O difícil é querer alimentar lembranças que fazem tão mal por serem lembranças. As mais antigas e as, ainda, mais recentes.
O natal mais triste.
Amanheceu e continuava gelado, foi um desses dias que as extremidades endurecem e chegam a doer, mas doia mais por dentro, e minha vontade era sentar do lado de fora da casa, abraçar os joelhos, e congelar. Quando se tornava quase insuportável ficar dentro da casa, o clima atordoando a mente, mas nem por isso aquecendo o coração, não me deixavam sair pra respirar um ar um pouco mais leve, ainda que glacial, podia acabar ficando doente. Quem se importava?
O sol ia ficando mais forte com o desenrolar do dia e sentar sob seu calor derretia um pouco dos nervos que já enrijeciam. Mas não resolvia. Eu também queria ficar lá dentro, e passei o dia andando de um lado para o outro, como antes corria pela casa derrubando coisas.
Eu sempre achei que quando fosse chegando a hora, bateria o desespero, ficaria catatônica ou choraria alucinadamente. Foi um pouco aliador. Ficariamos só nós, poderia dormir, ainda que não tivesse sono, até porque esperar não resolveria nada. As coisas já estavam difíceis.
As vezes melhora, as vezes eu não quero que melhore, pra pelo menos manter clara e recente as últimas lembranças antes daquela madrugada fria. As vezes piora, quando não parece justo dizer isso pra quem sente o mesmo. E não é. Ou quando aparecem coisas do passado que eu nunca precisava saber. De um passado que vai ficando cada vez mais remoto, cada vez mais importante. Eu queria esquecer pelo menos esse dia, o frio, o desnorteamento, mas nem são essas as memórias mais doidas. O difícil é querer alimentar lembranças que fazem tão mal por serem lembranças. As mais antigas e as, ainda, mais recentes.
O natal mais triste.
És o que tenho de suave, e me fazes tão mal
4 comentários:
O pior são mesmo as lembranças. E o mais desesperador é que elas são também o que nos leva a sorrir.
Texto lindo e intenso :*
é meio difícil comentar esse tipo de texto, porque tem muita coisa aí que não me diz respeito, tanto é que nem entendi direito, hehe.
Mas o fato de ser ainda mais triste, é por ser Natal e por sentirmos aquela obrigação estranha de sermos felizes nesse dia, por mais não tenhamos motivo algum para isso.
Data ainda mais cruel é o Ano Novo, olha, putaqueopariu!
acho o natal pior. o natal sempre foi mais importante emocionalmente, ainda mais nesse caso.
=/
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