Quarta-feira, geralmente, não é o pior dia da semana, nem, tampouco, o melhor... normalmente, é só um dia normal. Na metade da semana útil, é quando eu tenho uma manhã livre da faculdade, o que significa que posso dormir, e acordar, bem tarde, e eu sempre uso essa regalia, não tão incomum na minha vida de universitária, mas, com isso, acordo e o dia já é metade. Na outra metade clara do dia, o dia de fato e direito, eu só tenho uma aula, sim, é uma rotina bem pacata à das quartas-feiras, apesar de na grade ter aula de genética às duas horas, o dia começa mesmo às quatro, em que o horário reveza, à cada semana, uma aula prática, entre histologia e anatomia. Essa semana foi a vez da tão adorada, estudada e esperada, anatomia, e isso sempre foi um ponto positivo na luta contra um dia sem graça, na última quarta não.
Almocei, já quase meio dia, o macarrão que eu mesma cozinhei, convenhamos, o fato de o macarrão que EU MESMA cozinhei ter ficado, no mínimo, comestível, já é um grande avanço na incrível arte de ferver água, salgar, jogar a massa dentro e esperar, e dessa vez, além de mastigável e inteiro, modéstia à parte, ficou bom.
Comecei a assistir o seriado das treze, e sai de casa antes do final do episódio motivada apenas pela incrível anatomia.
Ao chegar ao campus, descer do ônibus, e já estar à caminho do departamento de morfologia, é que a consciência voltou pra onde não devia ter saido, e me dei conta do lapso de tempo que a roubará, eu estava duas horas adiantada pra aula de anatomia, cheguei no horário comum das duas da tarde, simplesmente me esqueci que não tinha as primeiras aulas, esqueci que não tinha aula! esqueci que podia ficar em casa vendo televisão... céus!
Foi nesse momento, que a epifania foi além da simples constatação da distração de uma aula, e me mostrou que algo tem desviado minhas forças e minha atenção, foi aí que eu percebi pra onde iam meus pensamentos.
Então eu fui pra biblioteca, ler um pouco de cultura não avaliada nas provas do curso que escolhi, e matei essas duas horas fazendo algo bom e útil.
A aula de anatomia foi bem pacata, com discussão de prova no final, fato que só eleva meus níveis de estresse diário.
Depois da aula passei na casa da minha tia, com um pouco de saudade, ou talvez fossem só lembranças introspectivas que comumente confundimos com nostalgia, pelos caminhos que fazia todos os dias úteis, há pouco mais de um ano, quando eu ainda morava lá, e meu mundo londrinense era tão menor, novo, e estranho e rendia poucas palavras no Caderno Verde.
Já em casa, nem assisti TV, fui pro quarto, liguei uma música boa, e escrevi esse texto.
E foi assim que foram consumidas as últimas folhas do Caderno Verde, com as devidas adaptações de pessoas e pronomes, temporalidades e fatos. Caderno que durou incríveis dois anos e meio, que guarda segredos inconfessáveis, verdade sádicas, lembranças inconvenientes, detalhes irrelevantes, e vida que talvez seja esquecida, tantas coisas até por mim. Caderno que foi, é, e será escrito com o intuito mais nobre, e egoísta, de preencher linhas, gastar frases e esvaziar a mente do que me pesa manter em segredo particular, mas nunca para ser relido em seus todo.
Quer este blog perdure, ou não, o Caderno é só obra de mais um cérebro pensador do cotidiano, desses que ao entrar na blogosfera, me deparei aos montes, mas que satisfáz uma desejo pessoal de analisar o mundo, sob minha própria ótica, só um meio. Aqui, pra estes fragmentos, vem apenas os pedaços que eu quero, as verdades veladas, os fragmentos do meu eu que eu quero e não tenho vergonha de mostrar.
E é a partir daqui que começa mais um caderno, ainda verde, mesmo que não tão adorada cor, apenas pela repercussão que ela já teve, à partir de um ponto ideal pra ser deixar os detalhes transcritos, e quando lidos relembrados, na memória, e viver a partir de uma nova folha, literalmente. Com uma nova fé, já descrita folhas atrás, e já esquecida, e, porque não, relida, antes com bem menos motivos ou razões, como só a fé permite ser, incondicional, mas plena.
Nem tudo precisa ter acontecido exatamente como está aqui. Nem tudo precisa ter sido escrito exatamente como eu transcrevi.
P.S. Se alguma coisa acontecer comigo, qualquer coisa que me torne incapaz de cuidar da integridade desses cadernos, eles são de único e exclusivo direito e herança do Dinho, pois assim como esse blog, ele não vai ler nunca, está seguro.